28.8.10

 

“Wando-nos” adaptar à música brega e ao nem um toque da Rosana

 
(Maio.2005)


“Nem um toque e eu querendo... dizer muito prazer. Nem um toque e eu sonhando... sonhando com você”.

Podia ser “descuido” de algum programador de rádio cansado das mesmas músicas que de tanto tocar já não tocam mais o coração de ninguém. Mas não, era ela, a deusa Rosana, cantando ao piano no palco do Sesc Ipiranga, numa das noites do projeto “Romântico ou Cafona?”.

Essa cena por si só já materializava a intenção desse evento criado para discutir os limites entre o que é brega e o que é romântico, à semelhança do que aconteceu no ano passado, no mesmo Sesc, quando houve encontros em princípio tão inusitados (mas só em princípio) como o de Chico César com Falcão e Jane & Herondy e o de Zeca Baleiro com Odair José e Paulo Diniz.

Acompanhando Rosana, estavam no palco os cantores Peninha e Moska, este último fazendo o papel de ponte entre o que é considerado MPB de qualidade e o que é rotulado como brega. Nando Reis teve a mesma função na abertura do projeto, apresentando e ciceroneando Wanderléia e Wando, que se sentiu em casa e também fez todos da platéia despirem-se dos preconceitos e ficarem à vontade.

Do respeito e admiração sinceros de Nando por Wando e Wanderléia, expressados por ele em suas falas entre uma música e outra, rolou uma química que dissipou todas as possíveis diferenças entre o romântico e o brega e entre o público do show (senhores e senhoras saudosos da jovem guarda e jovens em geral fizeram coro pras mesmas canções).

Para exemplificar, basta citar o dueto de (N)-(W)ando na música “Não Vou me Adaptar”, quando o ex-titã, pulando alegre como criança no palco, chegou a trocar a letra para “Wando me adaptar”, e na interessante canção que os dois fizeram juntos e cantaram ao vivo pela primeira vez.

Wando, aliás, deu um show à parte ao fazer um pot-pourri das canções de alcova do romântico-mor Roberto Carlos e instalar no palco uma mesa com seu kit que incluía rosas vermelhas, calcinhas e maças devidamente atiradas e disputadas aos gritos pela platéia.

Já Moska, Peninha e Rosana não tiveram a mesma simbiose, não pelos dois, cujo repertório não fugiu do tema do projeto, mas por ela que, apesar de lembrar com sua voz marcante alguns de seus megasucessos – incluindo o inefável “Amor e o poder” (“Como uma deusa, você me mantém...”), que de tanto tocarem na época em rádios e novelas geraram uma superexposição e uma certa antipatia da crítica em relação ao seu trabalho –, cantou rocks em inglês como quem queria mostrar que a fama de brega lhe era totalmente injusta. Isso num evento criado para acolher o brega...

Essa impressão já se notava pelo encarte do evento, no qual ela declara que “canta uma ária de ópera com a mesma intimidade com que faz um blues de Bessie Smith ao piano”. E foi reforçada quando no final, com Peninha e Moska já fazendo o bis no palco, Rosana só voltou depois de muitos apelos e, segurando seu casaco no braço (como quem quisesse sair sem demora), disse que não podia acompanhar os dois por não saber a letra (um dos maiores sucessos de Roberto Carlos...).

E no fim, quando Moska e Peninha se despediam do público abraçados, Moska estendeu um braço para Rosana que, talvez por não ter visto ou por não querer “se adaptar”, ironicamente não deu “nem um toque”.

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