7.9.10
Espelho holográfico
(1992?)
“O infra-herói / com sofrimentos / hiperhepáticos / procura /
um fluído supercrítico / que lave tudo / até o vago simpático”.
Mínima crítica*
1. Porões
Alguém se olha no espelho:
falsa imagem se compõe.
Porque quem se olha, apesar de não a ter,
opõe a imagem que tem à que crê.
Na angústia de não se conhecer, o espectro transpõe sua dor.
Na angústia de fenecer, o fantasma desconhece o concreto do amor.
Na angústia de não compreender, o nada decompõe seu sem-ser.
Durante essas angústias, vem o recenseador do IBGE.
E na angústia da angústia, o ninguém pensa,
em pleno carnaval,
em pleno salão de festas,
em Kierkegaard.
2. Do que se dispõe
Perdida sua aura, o ser se expõe
a um mundo de simulacros que a ele se apõe
e que, além de não representar,
vem tirar mais da parte já tirada.
Há fragmentos de tormentos
nos cacos de si mesmo
em que ele próprio se sotopõe.
3. O sujeito depõe
No auge da não autonomia de si,
o sujeito vai a julgamento.
E na provável sentença do porvir,
alguém lhe põe (impõe) um autoconhecimento.
Mas, para quem não se reconhece na própria sombra,
tudo é mais uma imagem
que recompõe a miragem
de um mero espelho holográfico
que apenas
supõe.
(Menção honrosa no Concurso de Contos e Poesias da ESPM.)
* Quem souber o nome do autor desse poema introdutório, ficarei grato se informar.
(Menção honrosa no Concurso de Contos e Poesias da ESPM.)
* Quem souber o nome do autor desse poema introdutório, ficarei grato se informar.
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