17.3.11

 

A Culpa





(Trecho da peça escrita em 2009 
e escolhida para o Núcleo de Dramaturgia do Sesi.)


Elenco

Homem  o marido.

Mulher  a esposa.

Delegado  o delegado.


Cena 2




HOMEM    Deram trinta minutos pra gente.


MULHER    Só trinta minutos???


HOMEM    (irritado) Tá, você consegue imaginar quanto meu pai teve que pagar pra merda do delegado para darem esses trinta minutos pra gente?


MULHER    Não acredito que até nessas horas esse velho só fica pensando em dinheiro.


HOMEM    (mais irritado) Mas se não fosse esse “velho”, que só por acaso é meu pai e que pagava todas as nossas contas, a casa ainda estaria cheia de sangue e a polícia teria descoberto logo de cara (pausa) a besteira que VOCÊ fez!


MULHER    Que EU fiz???


HOMEM     Sim, que VOCÊ fez!


MULHER    Que NÓS fizemos!


HOMEM    Por que você tá falando isso? Não tem ninguém ouvindo a gente aqui.


MULHER    Porque é a verdade.


HOMEM    Verdade? Nossa, você tá ficando louca mesmo.


MULHER    Ou você acha que não estamos juntos nisso?


HOMEM    Sim. Fizemos um pacto. Prometi que nunca revelaria de quem é a culpa. Mas não precisa fingir pra ninguém agora.


MULHER    É você que tá fingindo!


HOMEM    Vem cá, cê tá pensando que eu tô com um gravador escondido ou alguma merda assim?


MULHER    Mas por que eu não diria a verdade se o culpado é VOCÊ?


HOMEM    Meu deus. Se eu soubesse que ia escutar isso... E pensar que achei que você tava com saudades de mim...


MULHER    (irônica) Saudades de você? Sim, claro. Tô com muuuuitas saudades. Eu adoro gente que transforma minha vida num inferno.


HOMEM    Inferno foi ter me casado com você. Deveria ter ficado com a mãe dela. É uma songamonga, mas pelo menos não é assassina.


MULHER    Assassina, eu? Por que você não quer assumir a culpa? Também tá achando que eu tô gravando a nossa conversa? Meu pai não tem a mesma grana que o seu pra ficar bancando advogado corrupto.


HOMEM    Quer dizer que antes estávamos juntos nisso e agora EU é que sou o culpado?


MULHER    Você sabe que é.


HOMEM    Desisto. Vou sair daqui e contar toda a verdade pro delegado.


MULHER    (zombando) Nossa, que engraçado. Sabe que eu tava com a mesma ideia? Vamos juntos então? (estendendo a mão) Dá a patinha aqui pra mim.


HOMEM    Não seja ridícula!


MULHER    Ridículo é você que tá pensando em fazer uma asneira dessa! Juro que se você fizer isso, a imprensa vai adorar saber (tom) a verdadeira história do filhinho de papai que, além de ter matado, também abusava da filha.


HOMEM    Abusava da filha??? Não, você não seria capaz de inventar um troço desse.(sacudindo fortemente a mulher pelos ombros) Chega!!! Como eu pude ficar casado tanto tempo com você? 


MULHER    (sarcástica) Ah, que bom. Agora você também vai me bater? Ótimo. Muito bom. Vamos lá. (oferecendo o rosto) Pode bater. Ou melhor, dá um soco. Quero ficar com o olho bem roxo. Será minha prova pra mostrar pra imprensa. Eles vão ficar alucinados ao descobrirem que, além de tudo, você batia na mulher...



(...)


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